Sunday, April 29, 2007

Personalidades Negras: A Artista de temperamento forte


Artista de temperamento forte

A trajetória de Yêdamaria inspira livro com lançamento hoje, no Instituto Feminino da Bahia


Ana Cristina Pereira

Atuante nas artes plásticas baianas há cinco décadas, a artista plástica e professora Yêdamaria tem uma presença discreta, mas marcada pela constância e coerência. Sua trajetória, desconhecida de muitos baianos, ganhou um belo registro no livro Yêdamaria, publicação luxuosa do Museu Afro Brasil e da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. O trabalho será lançado hoje, às 19h, no Instituto Feminino da Bahia (Politeama), com a presença da criadora e exposição de alguns de seus trabalhos. Na ocasião, também será lançado o livro Meninos Deus - Os meninos do Recolhimento dos Humildes e outros Meninos Deus, iniciativa das mesmas instituições.

O projeto do livro, uma espécie de biografia artística, era acalentado por Yêdamaria há cerca de 12 anos. Queria registrar um pouco de sua história, reunir seus principais trabalhos. “Já estava perdendo as esperanças. A Bahia me deu régua e compasso, mas as coisas aqui são difíceis”, afirma Yêda Maria Corrêa de Oliveira, 75 anos. O tom não é de lamúria. Ao contrário, diz a artista, sente-se privilegiada. “Fiz muita coisa, viajei bastante, fui à África representar meu país. Morrerei sem mágoas da vida”.

Terceira geração de uma família de educadores, ela lembra que seu avô, negro, lecionou ainda no tempo da escravidão. Yêdamaria integrava uma elite negra, tendo recebido uma educação esmerada de sua mãe, a professora Theonila. Mais, incentivo materno e familiar para furar o bloqueio masculino e branco e seguir carreira nas artes plásticas, formando-se na Escola de Belas Artes da Ufba nos anos 50, onde viria a ensinar anos depois.

Na apresentação do livro, Emanoel Araújo, diretor do Museu África Brasil, afirma que Yêda sempre o impressionou “pelo temperamento forte e por seu absoluto silêncio em relação à sua carreira profissional”. As primeiras telas de Yêdamaria datam de meados da década de 50, dando início à fase em que ela pintava barcos e que durou cerca de 12 anos. À esta seguiram-se sereias e de Iemanjás, e a absorção de técnicas como litografia, colagens e gravuras. Neste período, final dos anos 70, Yêda fez mestrado em Arte Estúdio na Illinois State University, apontado pelos críticos como fundamental em sua carreira.

Ainda nos Estados Unidos ela inicia sua longa, colorida e delicada fase de natureza morta, com destaque para a gastronomia e para as mesas postas, que perdura até hoje. Num belo texto incluído na publicação, o escritor Ildásio Tavares destaca que Yêdamaria “devolve-nos o prazer prazeiroso de olhar um quadro e se apaixonar por ele, pois sua arte explora o que o artista sempre teve de melhor, o poder da sedução, da sedução direta”, anota. O livro traz, ainda, uma seleta de artigos biográficos e analíticos, assinados por nomes como Wilson Rocha, Carlos Eduardo da Rocha, Rai Santana Trindade, Mário Cravo Júnior e Consuelo Pondé de Sena.

A seleção de imagens, com vários exemplos de pinturas (guaches, óleo sobre tela) e trabalhos com colagens, litografia, gravura e desenho, é primorosa. “Acho que meu trabalho fala da Bahia, do povo daqui, da minha raça, as flores, as frutas, o colorido, ainda acho que não há festa mais bonita do que a de Iemanjá. Até mesmo as mesas, já vi algumas maravilhosas nas casas baianas”, observa a artista.

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FICHA

Livro: Yêdamaria
Edição: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Museu Afro Brasil
Direção de arte: Paulo Otávio Gonçalves
Coordenação editorial: Cecília Scharlach
Preço: R$100 (240 páginas)

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Devoção ao Menino Jesus

O livro - Meninos Deus – Os meninos do recolhimento dos Humildes e outros Meninos Deus é um projeto conjunto de Emanuel Araújo e da museóloga e pesquisadora Lúcia Bittencourt Marques (1919-2000). O objetivo, explica Emanuel, foi resgatar uma tradição da criação artística tipicamente baiana. Em dois textos ilustrativos, ele e Lúcia explicam que o culto ao Deus Menino veio para o Brasil juntamente com as variadas ordens religiosas que aqui desembarcaram como as Beneditinas, Franciscana e Carmelita.

Cultivada em muitas instituições, a tradição ganhou destaque, por exemplo, junto às freiras do Convento do Recolhimento de Nossa Senhora dos Humildes, em Santo Amaro da Purificação, alimentada pela riqueza açucareira. Parte da rica seleção de imagens do livro vem justamente desse convento, e impressiona pelo delírio barroco de brocados, pedrarias, rendas, sedas e fios de ouro. Outras imagens são do Museu do Carmo, Convento do Desterro, Lar Fransciscano Santax Isabel e Instituto Feminino. As religiosas cuidavam, pessoalmente, de enfeitar as esculturas, inventando detalhes como sandálias de ouro e doando-lhes suas jóias.

No ensaio Natividade de Jesus Cristo e o Deus Menino da Bahia, Lúcia Bittencourt trata da adoração popular do Deus Menino. Diretamente ligados à comemoração natalina, o santo nenê tinha, e ainda tem, espaço de honra nos presépios caseiros, mesmo nas versões mais simplezinhas, nu e deitado na manjedoura. A estudiosa, que durante anos respondeu pela Comissão de Arte Sacra de Salvador, resume sua opinião sobre a tradição religiosa: “Uma das mais alegres do Brasil”.

O livro também traz algumas imagens de Recife e exemplares do Menino Deus em terracota criados pelos santeiros contemporâneos Dinorá Oliveira e Osmundo Teixeira, que mantêm viva a tradição na Bahia. Hoje, no lançamento, parte da coleção de Meninos Deus do Instituto Feminino poderá ser conferida pelo público.

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FICHA

Livro: Meninos Deus - Os meninos do recolhimento dos Humildes e outros Meninos Deus
Autora: Lúcia Marques
Organização: Emanuel Araújo
Fotografia: Sérgio Benuti e Claudionor Gonçalves
Edição: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Museu Afro Brasil
Preço: R$90 (160 páginas)

Fonte: Aqui Salvador, Correio da Bahia, 30.04.2007
http://www.correiodabahia.com.br/folhadabahia
/noticia_impressao.asp?codigo=127249

A herança africana registrada no genoma dos brasileiros

A análise genética da população brasileira revelou dados inéditos sobre a vinda de escravos africanos para o país. Entre as descobertas estão as de que o trecho da África Ocidental, do Senegal à Nigéria, forneceu muito mais escravos do que se pensava e que a herança feminina é mais presente que a masculina nos genes da nossa população.

Até agora a teoria mais aceita era a dos estudiosos americanos do tráfico negreiro no Atlântico Herbert Klein e David Eltis, que estimaram que apenas 10% dos 5 milhões de escravos vindos para o Brasil haviam chegado do Oeste da África. A região Sudeste do continente teria enviado 17% e a Centro-Oeste 73%.

O estudo do material genético compartilhado por brasileiros e africanos revelou que a proporção de escravos oriundos do Oeste pode ter sido até quatro vezes maior que esta previsão.

- Analisamos o material dos brasileiros e comparamos as informações com as dos bancos de dados das regiões da África, estabelecidos pelo estudo de centenas de pessoas - explica Sérgio Pena, da UFMG.

Dos 120 paulistas que classificavam a si mesmos e a seus avós como negros, segundo dados fornecidos pelo IBGE, 40% apresentavam material genético típico do Oeste africano e o restante das regiões Centro-Oeste e Sudeste. A participação do Oeste nos genes dos 94 cariocas analisados é de 31% e nos 107 negros gaúchos é de 18%.

O material analisado foi o DNA mitocondrial, transmitido pelas mães aos filhos, e o cromossomo Y, passado pelos pais. Segundo os estudos, 85% dos negros paulistas têm DNA mitocondrial africano, enquanto 48% tinham cromossomo Y característico da África. No Rio, a proporção é de 90% para 56% e em Porto Alegre, 79% para 36%.

- As mulheres exerceram um encanto especial, de cunho sexual, nos senhores de engenho - explica Maria Cátira, da UFRGS. - Por isso, o preto brasileiro guarda hoje na herança genética uma contribuição maior das mulheres, embora o tráfico de homens tenha sido maior.

O DNA mitocondrial e o cromossomo Y são bons para determinar a composição de uma população porque não se misturam com outros genes e passam inalterados de uma geração a outra. Mas o material tem pouca informação sobre as características físicas de alguém. A pessoa pode ter DNA africano e ser loira de olhos azuis.

Para Maria, a pesquisa também mostra a extensão da mestiçagem no Brasil. Muitos são identificados como negros e têm uma proporção de cromossomos de origem européia majoritárias.

- Este conceito é muito mais profundo do que imaginamos. O mestiço não é só o que aparenta sinais na pele - diz Maria. - O branco pode ter sido descendente de escravos e o negro pode ter vindo de senhores de engenho, por exemplo.

Para os estudiosos, a proporção de negros vindos da África Ocidental é maior em São Paulo porque a decadência da economia açucareira levou ao deslocamento da mão-de-obra escrava para as plantações de café no Estado. A maioria dos escravos do Nordeste vinham do Oeste da África. Já no Rio Grande do Sul, 80% dos escravos vieram do Rio, onde a presença de pessoas vindas da região era menor.

- O estudo também mostra que as migrações internas têm um papel muito mais importante do que pensamos na distribuição dos africanos, sobretudo com o fim do tráfico - conta Maria. (C.G)

Fonte: JB Online, 29.04.2007 - www.jb.com.br

Africanos de Paris questionam nova diplomacia

Africanos de Paris questionam nova diplomacia

As novas gerações de africanos na França estimam que a ex-metrópole tem o dever de ajudar no desenvolvimento da África. Com a globalização, o crescimento da China e da Índia que fizeram crescer os interesses na África, a França não é mais a única tutora. Hoje, mais do que antes, a África sabe que não é pobre, ressaltam os africanos que vivem na França. Para eles, uma nova relação Françáfrica é possível, mas improvável.

- Desde De Gaule, a relação entre franceses e africanos é de chefe e empregados - compara Edouard Guershon, secretário-geral do Conselho Representativo das Associações de Negros (Cran). - Não é a nova geração que vai mudar essa relação, mas a vontade política. Demos o primeiro passo com os poucos votos do extremista Le Pen. Mas seus 11% mostram que ainda há racismo e discriminação neste país.

Nos campos de batalha, os africanos lutaram pela honra e glória francesa, lembram os jovens negros em Paris. Nos campos de futebol e nas pistas de atletismo, oferecemos campeões, orgulham-se.

- Acho que a França não fez muito pela Argélia. Temos história em comum, falamos francês, seguimos seus programas políticos, métodos de ensino - lamenta o argelino Nomandi Muhad, 22 anos, estudante de Literatura na Paris 8. - Mas a França não investe porque quer a Argélia como país de exportação.

Muhad está na França para também explorar o que o país tem de melhor: o ensino.

- É a reconquista - brinca o jovem, que não pode votar, mas gosta de Ségolène porque a candidata defende a legalização dos imigrantes.

E insiste:

- A Europa precisa investir na África para diminuir a imigração. O dinheiro gasto com o bem-estar social dos imigrantes devia ser aplicado no continente.

Para Thierno Iliassa Balde, secretário-geral dos Jovens Guineos na França, a colonização foi dura e mal terminada:

- Logo nas primeiras insurreições, a França nos abandonou. Ficamos sem funcionários, sem peças, as máquinas pararam e acabamos nos aliando à União Soviética, nos aproximando do comunismo.

Fonte: JB Online, 29.07.2007, www.jb.com.br

Eleição (na Franca) muda relação com a África

Eleição muda relação com a África

Camila Arêas

Depois de mais de um século de exploração, completam-se agora 50 anos de descolonização. O segundo capítulo da influência francesa sobre a África ainda está sendo escrito. Mas as eleições presidenciais na França - com segundo turno no próximo domingo - marcam "o fim de uma certa História", ressaltam jornais e intelectuais africanos.

Toda uma geração de políticos franceses e africanos ligados por obscuras relações de conivência e escândalos se vai. Outra chega, mais jovem, independente e pronta para fazer a própria História. É tempo para um novo contrato social, contrato de gerações, romanceia a mídia.

Leia matéria completa em no link

JB Online, 29.04.2007

Thursday, April 26, 2007

História reconstruída

História reconstruída

Criação do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira é discutida


Carmen Azevêdo

“Averdadeira história é aquela em que não há interesses sociopolíticos e econômicos. Sobre os negros, ainda não se fez a verdadeira história”. A afirmação de monsenhor Gaspar Sadock mostra um dos objetivos, senão o principal, da criação do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab). Desde a manhã de ontem, artistas, intelectuais, religiosos, negros e brancos, estiveram reunidos no auditório das Faculdades Jorge Amado para discutir o projeto de implantação do acervo histórico-cultural.
O projeto demanda recursos na ordem de R$6 milhões, dos quais já foram obtidos R$1,7 milhão para os primeiros passos da criação. A meta é inaugurar pelo menos a primeira ala de visitação em novembro deste ano.

Os prédios que sediarão o museu são do Tesouro do Estado e da Assistência Pública da Bahia, no Centro Histórico, cedidos pelo governo estadual. Com recursos da esfera federal, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ambas as edificações estão sendo recuperadas, sob responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder). Na abertura do evento, o poeta José Carlos Capinan, à frente da Amafro – Sociedade Amigos da Cultura Afro-Brasileira, entidade responsável pela execução do projeto, ressaltou que o objetivo é reunir representantes dos mais diferentes segmentos interessados na história e cultura afro. “É interessante que seja formulada uma proposta ampla e diversificada na concepção do museu”, afirmou.

“Queremos que seja implementado de forma democrática e não arbitrariamente como a maioria deles”, emendou o professor Emanuel Araújo, diretor do Museu Afro-Brasil, em São Paulo. A idéia é reunir discussões acerca da música, dança, história, culinária, religiosidade, mitologia e medicina afrodescendentes, entre outras áreas. Segundo o projeto de criação do Muncab, elaborado por Capinan, Salvador constitui o local ideal para a realização do projeto. “O Muncab deve ser concebido, para nele abrigar diversas ‘mídias’, escolas e outros instrumentos de difusão cultural, transformação e reconhecimento de tradições ancestrais, que sustentaram diante de condições adversas conhecimentos valiosos para nosso patrimônio como civilização”, ressalta a proposta.

Espaços - Nos prédios da rua do Tesouro, com área aproximada de 4.500 metros quadrados, os visitantes terão acesso a salas de exposição, arquivos, oficinas, salas de recital e de aula, lojas e cafés, lan house e acervo de bens tangíveis e intangíveis. O projeto, em fase de esboço, passará por inúmeras discussões até a concepção final. Os preços a serem cobrados pela visita ainda são desconhecidos, mas sabe-se que o visitante poderá conhecer o Memorial da Diáspora – uma espécie de navio no qual será mostrada a história do nascimento do continente africano.

“O importante desta idéia é que o museu saia da condição de centro antropológico, que tem o negro como estudo. O negro não tem que ser estudado”, enfatiza Emanuel Araújo. Para ele, é importante valorizar os negros que foram importantes para o Brasil. “Muitos deles produziram muito e nada receberam em troca, apenas a exclusão social. É preciso reconstruir a história que foi construída de maneira errônea e cheia de vazios”, emenda. Ele defende ainda que o próximo desafio é ligar Salvador à África. “É extraordinário como o Benin está ligado ao Brasil, o oposto tem que acontecer e esta é uma das funções do museu”, concluiu.

O projeto conta com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa Econômica Federal, Grupo Votorantin e Programa Monumenta (Iphan). O grupo estará reunido até sábado, das 8h às 17h.

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 27.04.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador
/noticia_impressao.asp?codigo=127070

Friday, April 20, 2007

Lula acena com maior atenção aos índios


Índia Pataxó
http://www.sitecurupira.com.br/indios/imagens/dusek/pataxo01.jpg
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0/4/2007 01:06:00 -O Dia Online
http://odia.terra.com.br/brasil/htm/geral_93938.asp

Lula acena com maior atenção aos índios

Presidente reconhece que não fez muito por nativos no 1º mandato. E reclama da falta de civilidade da sociedade

BRASÍLIA - No Dia do Índio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que não fez uma boa gestão para os povos indígenas no seu primeiro mandato. Na presença do cacique txucarramãe Raoni e outros 19 líderes nativos, o presidente participou ontem de solenidade no Palácio do Planalto em comemoração à data.

“Tudo o que não aconteceu de 2003 a 2006, a gente fará acontecer até 2010”, declarou o presidente em discurso, para, em seguida, prometer: “Neste novo mandato, vamos fazer as coisas que não fizemos”. O reconhecimento chega após o petista passar boa temporada atribuindo aos movimentos indígenas e ambientais culpa por atrasos nas licenças de construção de hidrelétricas e estradas na Amazônia.

Na presença dos índios, Lula chegou a reclamar da falta de “civilidade” da sociedade nacional em relação aos povos nativos. “Temos de tornar a relação entre brancos e índios mais democrática e civilizada”, afirmou, completando: “O índio é um cidadão brasileiro, tem o direito de entrar no palácio do governo e ser atendido”, ressaltou.

Demonstrando estar afinado com os desejos dos caciques, o petista prometeu trabalhar em benefício dos povos indígenas. “Vocês terão no segundo mandato muito mais atenção do governo. Não queremos transformar vocês em brancos, mas transformar a sociedade”, destacou o presidente, que ontem assinou a homologação das reservas Apyterewa (Pará),

Entre Serras (PE), Itixi-Mitari (Amazonas), Palmas (Paraná e Santa Catarina), Pankararu (Pernambuco) e Wassu Cocal (Alagoas). A área total homologada é de 978 mil hectares.

Também ontem, foi criada a Comissão Nacional de Política Indigenista. Composta por 20 representantes indígenas, a comissão abre a discussão aos índios sobre as políticas indigenistas do governo. A fundação também será composta por dois representantes de organizações de índios e 13 membros do governo federal. Um representante da Fundação Nacional do Índio (Funai) será o presidente.

A comissão vai elaborar anteprojeto de lei para criação do Conselho Nacional de Política Indigenista. Os representantes de comunidades indígenas que estão acampados em Brasília conversaram com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, sobre processos que tramitam na corte envolvendo questões de de interesse de tribos.

Família de Galdino: pena leve para crime

A família do índio pataxó Galdino José dos Santos — morto incendiado por jovens há 10 anos, em Brasília — afirmou ontem que não foi feita justiça no caso. Para Wilson Jesus de Souza, de 42 anos, sobrinho de Galdino, a pena foi branda. “Não ficamos satisfeitos. Foram muito curtas as penas. É bem capaz que eles (os assassinos) estejam em suas casas neste momento. Para nós, é como se eles nunca tivessem sido condenados”.

A família de Galdino preparou manifestações. Será realizada uma cerimônia na aldeia Caramuru Catarina Paraguassu, no Sul da Bahia. No local, que fica entre os municípios de Pau Brasil, Itaju Colônia e Camaçã, moram 3.020 índios pataxós. “Faremos uma manifestação no dia 21 de abril, que foi quando o corpo dele chegou aqui na aldeia para ser enterrado”. Segundo Wilson, o conflito por terras é constante na região.

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O pai e a mae de Galdino

Thursday, April 19, 2007

Agrotóxicos de plantações de soja estão matando índios da Amazônia

Agrotóxicos de plantações de soja estão matando índios da Amazônia
(Fonte: 24 Horas News - publicado no site
Amazônia.org.br )

O avanço da fronteira agrícola no norte do Mato Grosso e em Rondônia, além da atuação ilegal de madeireiras, já atinge o sul do Amazonas e vem assustando as comunidades indígenas da região. A denúncia é feita pelo líder indígena Walmir Parintintin, cujo povo vive nas proximidades das Brs 230 e 319 da Transamazônica.
Segundo ele, forasteiros tomam conta da região, levando o desmatamento e ao surgimento de pastagens, ao mesmo tempo que trazem doenças com a contaminação das águas dos rios com agrotóxicos.
Esse avanço sobre a floresta e as áreas indígenas, afirma Walmir, vem ocorrendo desde o início da década, quando surgiram os primeiros problemas com o plantio da soja. As cabeceiras de rios e igarapés foram contaminadas, atingindo as aldeias.
Agora, prossegue ele, a principal preocupação é com a ação de madeireiros, que "agem ilegalmente"
. "As terras indígenas correm o risco de serem atingidas, porque a madeira que existe nas fazendas está acabando. O governo não enxerga o problema."
Segundo Parintintin, a doença provocada pelo uso de agrotóxicos nas plantações de soja chega às aldeias por meio da água dos rios e pelo consumo de peixes contaminados, o que está levando à morte de crianças e idosos. "Tem também muito índio morrendo com câncer. É resultado do problema dos agrotóxicos. Estamos sofrendo com isso", resume. "Temos consciência de preservação da natureza. Hoje, são os povos indígenas que seguram as terras e mantêm o meio ambiente para o governo. Nossas produções de artesanato não degradam o meio ambiente."Os Parintintin estão finalizando um trabalho de diagnóstico cultural e de preservação de suas raízes, que deve ficar pronto ainda este ano. "Nós temos língua, cultura e danças tradicionais que não esquecemos, apesar do avanço das máquinas sobre nossas terras. Com esse estudo, vamos conduzir e preservar a nossa cultura", conclui.
O rápido avanço das fronteiras agrícolas nos últimos anos, em direção aos territórios indígenas, especialmente na região onde habita Walmir, foi tema abordado também pelo coordenador da campanha 'YIkatu Xingu pelo Instituto Socioambiental, Márcio Santilli, em artigo para o décimo volume da publicação Povos Indígenas no Brasil - 2001-2005.


Postado por Angela SP
angcb04@gmail.com

Monday, April 16, 2007

Brasil/Índice de morte entre menores é maior que em zonas de guerra

Brasil/Índice de morte entre menores é maior que em zonas de guerra

SÃO PAULO - Uma reportagem publicada ontem pelo jornal americano Washington Post (www.washingtonpost.com) mostra que o índice de mortes de menores de idade nas favelas do Rio de Janeiro é maior que o verificado em zonas de guerra. De 2002 a 2006, 729 crianças palestinas ou israelenses morreram, de acordo com o grupo israelense de diretos humanos B’Tselem. “No mesmo período no Rio de Janeiro foram relatadas 1.857 mortes de menores de acordo com o Instituto de Segurança Pública, um centro de pesquisas estatal”, compara o correspondente do jornal no Rio de Janeiro Monte Reel e o colaborador Fred Alves, que assinam a reportagem No Rio, a morte vem cedo.

Com o aumento da violência entre jovens, como o caso do menino João Hélio, no Rio de Janeiro, a matéria discute também o projeto de reduzir a maioridade penal. O texto relata o medo de mães em perderem seus filhos em meio à guerra entre traficantes, polícia e milicianos, ou também pelo risco de serem cooptados pelo tráfico. O temor é exemplificado até pela necessidade de os moradores conseguirem distinguir entre o barulho de fogos de artifício e o de tiros.

“Madeira (Maiza Madeira, moradora de favela) disse que aprendeu há três anos a identificar o som de fogos de artifício de forma tão apurada. Na primeira noite da celebração do Carnaval seu filho de 16 anos saíra com amigos. Fogos de artifício foram lançados a noite toda, mas um som em particular a deixou preocupada”. Eram os tiros que mataram seu filho em frente à sua casa, e foram disparados por uma patrulha da Polícia Militar, relatam os jornalistas do Post. (AE)

Fonte: Poder, Correio da Bahia, 17.04.2007
http://www.correiodabahia.com.br/poder/
noticia_impressao.asp?codigo=126402

Sunday, April 15, 2007

Comércio transatlântico: venda de roupas aliada a transformações culturais


Comércio transatlântico: venda de roupas aliada a transformações culturais

Angolanas que chegam ao Brasil para comprar roupas, revendidas em seus países de origem, entram em contato com realidade política, social e econômica bastante diferente da vivenciada em seu país, que ficou 40 anos em guerra civil

Texto e fotos por Juliana Borges

Bairro central da capital paulista, o Brás é um lugar de migrantes, uma mistura de bolivianos, paraguaios, nordestinos, paulistanos, guinenses, libaneses e, também, de angolanos. Por onde quer que se ande, nas lojas, nas ruas, entre os camelôs, nos mercados, na feira da madrugada - um mercado aberto que começa às 3h30 da manhã -, nos hotéis ou nos restaurantes, a presença desses últimos é quase sempre notável, seja pelo colorido das roupas e o primor dos penteados das mulheres, nas vozes com sotaque que estão quase sempre a falar alto e, principalmente, comemorada pelos dólares que trazem do seu país natal. Alguns, geralmente estudantes, vivem em São Paulo. Mas a maioria está apenas de passagem.

Centenas de sacoleiras angolanas que quase diariamente atravessam o Atlântico e desembarcam em São Paulo à procura de produtos para serem revendidos em seu país de origem. Elas compram quantidades enormes, despachadas por transportadoras. O lucro obtido com a transação paga a passagem de avião, que custa mais de mil dólares, e ainda garante o sustento dessas mulheres.

Voltar a Angola para vender roupas brasileiras é uma das saídas para driblar a falta de emprego
O trajeto que as sacoleiras angolanas atualmente percorrem várias vezes por ano é uma rota histórica. Cinco séculos atrás, seus ancestrais fizeram o mesmo caminho a bordo de navios portugueses e chegaram ao Brasil na condição de escravos. Vinham oprimidos, maltratados, maltrapilhos. Bem diferente das sacoleiras hoje. Os recepcionistas dos hotéis as chamam pelos nomes, conhecem seus parentes que também já estiveram aqui a fazer compras e fazem de tudo para agradar. Os taxistas as esperam muito tempo na porta sem reclamar enquanto as angolanas se arrumam para sair. Os lojistas mandam seus vendedores buscarem as clientes na porta dos hotéis e lhes oferecem descontos a que brasileiros não têm direito. A dona de um hotel faz questão de hospedar suas melhores clientes na sua própria casa. O africano, que no passado veio ao Brasil na condição de escravo e historicamente sempre ocupou a incômoda condição de inferior e assistido, hoje é visto com outros olhos. Ele recebe toda a atenção.

Essa mudança começa por uma motivação econômica, mas tem resultados muito mais abrangentes. "Diferentemente do negro brasileiro, a angolana chega aqui sem conhecer seu passado como escrava, sem nunca ouvir que tem cabelo ruim, sem saber que está num país em que existe a idéia de ser feio por ser negro", afirma Abdu Ferraz, fundador da organização Liga dos Amigos e Estudantes Africanos (LAEA), que tem por objetivo assegurar a inclusão do negro na sociedade brasileira. "Ela não tem vergonha de ser negra, não precisa olhar para baixo ou arquear os ombros. Isso gera um impacto grande em quem lhe recebe", completa. "O brasileiro não está acostumado a enxergar o africano em condições iguais ou até superiores a ele. A presença das angolanas em São Paulo está começando a mudar esse cenário."

Do outro lado do oceano, as mudanças perpetuadas pela presença das sacoleiras no Brasil estão sendo igualmente profundas. Essas mulheres estão tendo contato constante com uma realidade completamente nova. Acostumadas ao comércio nas ruas, elas começam ver uma nova forma de organização econômica. Vivendo em um país que tem o mesmo presidente há 26 anos, elas entram em contato com debates políticos na televisão. Até pouco tempo atrás dependentes financeiramente de seus maridos, elas começam e ter seu próprio sustento e, com isso, podem atender melhor às suas próprias vontades. "O contato constante como Brasil faz com que elas, aos poucos, deixem de vender nas ruas e comecem a vender em suas casas. Depois, passarão a comprar manequins e montar pequenas vitrines e, um dia, montarão lojas. É um processo de aprendizado", opina Ferraz.

Algumas sacoleiras, apesar de terem um certo poder econômico para virem ao Brasil várias vezes por ano, não têm acesso a infra-estrutura básica. "A pobreza é muito relativa. Elas movimentam um dinheiro que permite comprar um chuveiro ou um gerador, mas elas não têm esses aparelhos em suas casas. E, quando vem ao Brasil, não levam, porque não têm essa lógica, essa cultura", afirma Ferraz. Mas, aos poucos, elas vão incorporando novos hábitos. "Quando elas vêm e ficam num quarto com chuveiro e ar condicionado, algum tempo depois ela também vai querer ter isso lá. E o vizinho dela vai ver o chuveiro e também vai desejar ter um chuveiro também. E, assim, devagar, a mudança vai se perpetuando", completa.

Para facilitar o contato entre as duas partes - as sacoleiras e as lojistas - há entre elas uma figura importante, cuja função é fazer o meio de campo: os guias. Eles geralmente também são estudantes angolanos que moram no Brasil e conhecem melhor os hábitos daqui. Os guias estão sempre atentos às novidades. Eles se encarregam de acertar a entrega das mercadorias no hotel, conhecem as lojas em que as suas conterrâneas preferem comprar e sabe negociar com os vendedores. "Mesmo as que vêm sempre ao Brasil gostam de pegar um guia porque estão num país estranho", diz o estudante de administração angolano Roni, de 26 anos, que está no Brasil há seis anos. "Atualmente, o que está mais vendendo é cabelo, que é usado para fazer penteados", Apesar de contar com auxílio financeiro da família, ele precisa encontrar maneiras de engordar o orçamento e o trabalho de guia é uma saída para isso.

Aqui no Brasil, Roni fez amizades com muitos libaneses e acabou se convertendo ao islamismo. A religião o ajuda a driblar a falta que seu país lhe faz. Seus olhos ensaiam ficar marejados quando ele fala da saudade da família, mas ele sabe que é melhor ficar até terminar a faculdade. Seu sonho é montar uma academia de ginástica em Angola, nos moldes das unidades das grandes redes brasileiras. "Estou tentando arrumar um sócio. Agora é a hora certa para investir. Com o fim da guerra, o país está crescendo demais", diz.

Com o fim da guerra civil, Angola voltou a receber investimentos estrangeiros, inclusive brasileiros, impulsionando sua economia
Roni está coberto de razão. Há quatro anos vivendo em paz, Angola voltou a receber altos investimentos estrangeiros e sua economia está se reaquecendo rapidamente. Luanda hoje se parece um canteiro de obras, de tantos empreendimentos que estão sendo erguidos. Um dos maiores está sendo feito pela a construtora brasileira Odebrecht - ainda em 2007, ela vai inaugurar o primeiro shopping center do país.

Angola oferece ótimas oportunidades de negócio e aqueles que souberem explorá-las agora serão beneficiados. São pessoas com uma mente mais empreendedora, como Roni, que ajudarão a promover uma profunda transformação no país. "A classe média angolana é formada por meninos que estudaram no exterior, tem graduação e mestrado e que estão hoje na faixa de 40 anos de idade. Eles têm acesso ao orçamento do estado, a linhas de financiamento e estão começando a instalar as primeiras fábricas angolanas próprias", analisa Ferraz. Depois que esse processo já estiver mais consolidado, ele provavelmente irá ameaçar uma atividade que, há séculos, se perpetua na África: o trabalho das sacoleiras.

Clique abaixo para ler outras partes da reportagem:

Parte I - A saga de mulheres africanas que cruzam o oceano para comprar roupas no Brasil
Parte II - Das novelas brasileiras aos mercados populares da África

* Esta reportagem foi publicada em parceria com a revista Problemas Brasileiros
Reporter Brasil
http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=981

Saturday, April 14, 2007

Índios fazem protesto contra transposição do São Francisco

Representantes de 41 tribos param tráfego em Paulo Afonso




A rejeição do projeto de transposição do Rio São Francisco se juntará à tradicional revindicação pela terra no acampamento indigenista Terra Livre, entre os próximos dias 16 a 19. A posição dos índios das 41 tribos que habitam a Bacia do Velho Chico foi reafirmada publicamente ontem, numa manifestação em Paulo Afonso que reuniu cerca de 300 índios. Na próxima semana, protestos serão realizados por toda a Bahia no chamado Abril Vermelho, promovido pelo MST.

De acordo com Roberto Saraíva, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os índios são contrários à transposição – um projeto do Ministério da Integração Nacional – porque a obra vai gerar danos ambientais, sociais e culturais aos indígenas, como a inundação de terras trukás em Pernambuco. Há um entendimento nas etnias da bacia que o projeto prejudica as demarcações de terra em andamento.

“É um momento crucial. Enquanto o governo insiste com a truculência de fazer a transposição, as etnias se únem contra o projeto”, avaliou Alzeni Thomaz, da Comissão Pastoral dos Pescadores (CPP). Participante da manifestação em Paulo Afonso, ela disse que o ato foi pacífico, ao contrário do que aconteceu no final de fevereiro, em Jauzeiro, quando parte dos manifestantes tiveram que seguir a pé por cerca de cinco quilômetros.

“Estava acontecendo uma troca de comando”, brinca Alzeni Thomaz. “Não queríamos mesmo conflitos. Quando a polícia apareceu, fomos embora”. Vindos do Terra Toré – ato indígena preparatório para grandes manifestações – os 300 índios ocuparam uma ponte em Paulo Afonso. Após a mobilização na Bahia, a comitiva de seis ônibus seguiu viagem para o Distrito Federal. O Terra Toré foi sediado em Carnaúba da Penha (PE), nas terras dos pankararés.

Paulo Afonso (BA) foi escolhida para a manifestação por causa do complexo de quatro hidrelétrica da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) instalado na cidade. Além de contrários à transposição, os povos indígenas não aceitam negociar compensações com o governo federal e desconfiam das recentes investidas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na região. Segundo Roberto Saraiva, como os canais do projeto atravessam tribos, os índios atingidos ou serão removidos ou terão que abrir mão de parte dos seus territórios. Na última quarta-feira, representantes do Ibama procuraram as lideranças dos pipipãs e foram levados a Carnaubeira da Penha para dar maiores explicações.

“A transposição tem projetos paralelos, como duas hidrelétricas, que também vão trazer impactos, principalmente aos trukás e aos tumbalalás, na Bahia”, disse o representante da Cimi, que confirmou a disposição dos índios de aderir a protestos que o conjunto de entidades e movimentos antitransposição pretendem fazer nos canteiros, caso as obras sejam iniciadas.

Fonte, Poder, Correio da Bahia, 14.04.2007
http://www.correiodabahia.com.br/poder/
noticia_impressao.asp?codigo=126271

Monday, April 09, 2007

Brasil dominou tráfico de escravos no mundo


Imagem publicada no Harper's Weekly em 2/6/1860 mostra o navio Wildfire, capturado enquanto ia para Cuba. Cortesia da New York Public Library.
Jornal de 1860 ilustra navio capturado quando ia para Cuba (Imagem New York Public Library)
O mais completo banco de dados já organizado sobre o tráfico de escravos no mundo confirma que o Brasil e os portugueses tiveram um papel central no comércio negreiro durante séculos.

Organizado por historiadores da Universidade de Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, e de Hull, na Inglaterra, o banco de dados reúne quase 35 mil viagens de navios negreiros realizadas entre 1501, quando há registro da primeira leva de escravos, e 1867, quando o tráfico foi abolido.

O site, a que a BBC Brasil teve acesso, será lançado junto com um volume de ensaios cuja previsão é chegar às livrarias em janeiro de 2008.

O banco de dados é uma volumosa atualização de um CD-Rom lançado em 1999 por Richardson e o historiador David Eltis, de Emory, que continha informações sobre 27 mil viagens de navios negreiros.

Hegemonia

Para pesquisadores brasileiros, a nova edição online é ainda mais importante porque o grosso das informações adicionadas no banco trata de expedições à América Latina, em especial ao Brasil.

Mais de 5,2 mil jornadas de navios brasileiros e portugueses foram mapeadas pela primeira vez. Levando em conta todas as nacionalidades, quase 20 mil viagens que já estavam incluídas na primeira edição ganharam novos dados.

Eltis e Richardson sublinham que os novos dados mostram uma hegemonia de portugueses e brasileiros no comércio de escravos "bem maior do que pensávamos há cinco anos".

Embarcações brasileiras e portuguesas carregaram quase 5,8 milhões de escravos, cerca de 95% deles para o Brasil. Navios britânicos, que o senso comum julga serem os mais ativos no comércio negreiro, levaram cerca de 3,1 milhões.

"Os ingleses, na verdade, não foram os maiores mercadores de escravos, como muitos supõem. Agora, parece que a dominância britânica do tráfico de escravos se resumiu a apenas oito de treze décadas entre 1681 e 1807, entre dois longos períodos de hegemonia brasileira e portuguesa em que a participação britânica foi trivial", escrevem os pesquisadores.

'Chutômetro'

Os novos dados conferem nova dimensão a fatos já conhecidos de historiadores brasileiros, como o de que o comércio de escravos era dominado por agentes baseados no Brasil e não em Portugal – ou seja, na colônia, e não na metrópole.

Estudos conduzidos pelo historiador da UFRJ Manolo Florentino mostraram que três quartos dos mercadores que controlavam o tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro entre 1790 e 1830 eram sediados no Brasil.

Outra informação que o banco de dados contesta é a de que um contingente igual ao dos mais de 10 milhões de escravos que chegaram às Américas morreu na travessia.

O mapeamento indica que 12,5 milhões deixaram a costa africana durante o período da escravatura, ou seja, o número de mortos ficaria em torno de 2,5 milhões.

"Estas estimativas foram feitas em uma época em que se trabalhava com o 'chutômetro'", diz Florentino. "O trabalho de Eltis e Richardson tem o mérito de criar uma padronização, e de aproximar da realidade as estatísticas."

Mar de informação

Usuários poderão examinar de onde saiu e onde chegou cada uma das embarcações, a duração da viagem, quantos escravos foram comprados e vendidos (e a que preço), a nacionalidade do navio e até o nome do capitão.

Na introdução da obra, a ser publicada pela imprensa da Universidade de Yale, os organizadores esperam oferecer subsídios para o que chamam "uma nova era de estudos sobre o comércio escravagista".

Os artigos, assinados inclusive por pesquisadores brasileiros, como o historiador Manolo Florentino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, oferecerão uma primeira interpretação da mais completa base de dados sobre o tráfico negreiro disponível no mundo.

O professor David Richardson, da Universidade de Hull, explica que a idéia por trás do banco de dados é prover informações para que pesquisadores se debrucem sobre aspectos menos conhecidos do tráfico negreiro.

"Existe uma mudança em relação à pesquisa sobre o tráfico negreiro. Já temos o quadro geral de como a atividade funcionava, agora precisamos desconstruir essas viagens e analisar o que realmente acontecia nos navios", diz Richardson.

"O estudo do dia-a-dia do tráfico negreiro é que vai trazer seres humanos para dentro da História, fazer com que os escravos deixem de ser apenas números."
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No ápice do tráfico, Brasil recebeu 775 mil crianças escravas

Imagem publicada no Illustrated London News em 20 de junho de 1857 - Cortesia da New York Public Library
Crianças escravas aparecem em imagem de 1857 (Cortesia New York Public Library)
Pelo menos 775 mil crianças africanas foram escravizadas e levadas para o Brasil nos primeiros cinqüenta anos do século 19, em um período em que o tráfico negreiro atingiu o ápice de sua sofisticação, indicam dados cruzados a partir de novas informações sobre a era da escravidão.

Crianças foram ganhando a preferência dos traficantes porque, entre outros aspectos, eram mais "maleáveis" que adultos, indicam novas pesquisas publicadas duzentos anos após a lei britânica que proibiu o comércio de escravos.

No fim da era escravagista, um em cada três africanos escravizados era criança, nas estimativas do historiador David Eltis, da Universidade de Emory, em Atlanta, um dos maiores especialistas mundiais no tema.

Segundo Eltis, cerca de 12,5 milhões de escravos deixaram a costa da África entre 1500 e 1867, quando se tem registro do último carregamento. Em torno de 10 milhões chegaram aos seus destinos nas Américas.

Nos cálculos do pesquisador, dos 5,5 milhões de pessoas que tinham como destino o Brasil, apenas 4,9 milhões desembarcaram em portos brasileiros.

'Maleáveis'

Os dados de Eltis indicam que quase 2,3 milhões de escravos foram enviados ao Brasil entre 1800 e 1850 – destes, ele acredita que 775 mil eram crianças.

A alta proporção de menores de 15 anos entre os escravos já era conhecida dos pesquisadores – há estimativas que a colocam em até metade do total –, mas novos dados oferecem novas explicações para este fato.

Um estudo de caso publicado na última edição do Journal of Economic History pelos pesquisadores David Richardson, da Universidade britânica de Hull, e Simon Hogerzeil, do Centro Psicomédico Parnassia holandês, mostrou que crianças reagiam melhor à travessia que os adultos.

Richardson disse à BBC Brasil que, além disso, "no fim da era escrava havia uma percepção geral, por parte dos mercadores, de que as crianças eram mais maleáveis que os adultos, que poderiam ser treinadas em habilidades específicas".

Analisando 49 viagens de navios negreiros holandeses entre 1751 e 1797, os pesquisadores observaram que crianças eram compradas antes, porque reagiam melhor à experiência traumática.

Comparada à de um adulto, sua taxa de mortalidade era a metade, calcularam os pesquisadores.

Rugendas retratou o sofrimento dos negros em Nègres à Fond de Cale - Cortesia da New York Public Library
No fim da era escrava havia uma percepção geral, por parte dos mercadores, de que as crianças eram mais maleáveis que os adultos, que poderiam ser treinadas em habilidades específicas.
David Richardson, historiador

Assim, uma criança tinha mais chance que um adulto de passar longos períodos – até um ano, no caso estudado – dentro de um navio negreiro, entre todas as fases do tráfico.

Antes que o navio zarpasse para a viagem transatlântica propriamente dita, uma criança passava em média quatro meses dentro da embarcação – um prazo mais de 40 dias superior ao passado por homens.

"Em outras palavras, as estratégias de compra dos mercadores expunham crianças a riscos por mais longos períodos de tempo que os adultos", disse Richardson.

Em uma viagem típica, os navios da Middelburgsche Commercie Compagnie, que operava no oeste africano, zarpariam com 253 escravos, perderiam 33 ao longo do trajeto e venderiam 220 nas Américas.

Sobrevivência

As observações dos pesquisadores não eliminam a validade de explicações levantadas anteriormente, que atribuíam a forte escravização de crianças à escassez de adultos em determinadas áreas da África.

Outra razão, levantada em entrevista à BBC Brasil pelo historiador Manolo Florentino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destaca que senhores brasileiros podem ter sentido necessidade de "importar" mais mulheres e crianças para garantir mão-de-obra futura caso o tráfico negreiro fosse proibido.

Richardson e Hogerzeil destacaram, no entanto, que as condições de aprisionamento dos homens adultos podem estar relacionadas às taxas de mortalidade menores de crianças.

Os homens, comprados aos poucos durante a "fase de carregamento" do navio, entravam em grande quantidade no final da etapa, a menos de um mês ou até a menos de uma semana da partida, verificaram os pesquisadores.

"As condições dos escravos no momento da embarcação é criticamente importante para determinar por que eles sucumbiam mais durante a travessia", diz o estudo.

"Isto pode estar associado a pressões sobre os capitães para levar homens adultos para satisfazer as expectativas dos compradores, o que os encorajava a ser menos rigorosos na seleção."

"Os homens também eram tipicamente vistos como instigadores de rebeliões dentro dos navios, e sofriam mais fatalidades durante esses incidentes."

"Além disso", justificam os pesquisadores, "os homens eram normalmente encarcerados em celas separadas de mulheres e crianças, e normalmente ficavam presos por ferros, sobretudo quando o navio ainda estava próximo da África".

* Colaborou Sílvia Salek, de Londres.



BBCBrasil.com, 09.04.2004
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/
2007/04/070405_escravos_database_pu.shtml

Saturday, April 07, 2007

Entidades repudiam atentado e apóiam UnB


05/ 04/ 2007 - casa do estudante
Assessoria de Comunicacao - Universidade de Brasília


Entidades repudiam atentado e apóiam UnB

OAB, CNBB, Unesco, parlamentares e governo se solidarizam com universidade e condenam incêndio criminoso contra estrangeiros

DA REDAÇÃO
Da UnB Agência

O fogo criminoso ateado nas portas dos quartos de estudantes africanos da Universidade de Brasília (UnB), no último dia 28, despertou perplexidade na sociedade brasileira. Instituições, entidades e pessoas historicamente ligadas às questões de direitos humanos repudiam o crime, esperam o resultado das investigações policiais e elogiam as ações tomadas pela UnB, como a proteção aos alunos estrangeiros, a abertura de sindicância interna, a criação de um programa para discutir o racismo e a xenofobia e o acionamento imediato das polícias Civil e Federal.

Confira abaixo opiniões de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco); o Itamaraty, além de deputados e senadores.
Divulgação

“O atentado, por sua barbárie que é um crime de preconceito, tem de ser repelido. O Brasil não pode aceitar passivamente a violência racial ou a perpetuação do sistema de discriminação que afasta os negros dos bens sociais. O atentado é a prova cabal de que o Brasil ainda tem preconceito, racismo, e, portanto, merece ações positivas de combate e ações afirmativas no que se refere à inclusão racial. A UnB agiu corretamente quando entendeu o caráter racista do episódio, com medidas punitivas, procurando descobrir os agentes, mas não desprezando a questão daqueles cidadãos vítimas da barbárie. Esse é um episódio que não deve se repetir na história do país”.
Cezar Britto
Presidente Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
Daiane Souza/UnB Agência

“A Unesco lamenta o episódio ocorrido na UnB, no dia 28 de março de 2007, no qual estudantes negros africanos tiveram incendiadas as portas de suas moradias. O fato é profundamente preocupante e indica a urgência de uma educação voltada para o respeito à diversidade e à compreensão mútua das diferentes culturas. Sob esse aspecto, a universidade não pode abrir mão de uma de suas mais elevadas missões, que é a de formar mentes verdadeiramente democráticas e éticas, consolidando-se como um espaço privilegiado de não-violência e de construção de uma cultura de paz. Nessa linha de pensamento, a Unesco tem procurado convergir, em escala mundial, o melhor de seus esforços no sentido de construir sociedades onde atos dessa natureza não mais se repitam”
Vincent Defourny
Representante Interino da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil
Cláudio Reis/UnB Agência

“Não tenho dúvida de que os acontecimentos na UnB, no dia 28 de março, que vitimaram estudantes africanos, constituem um ato de racismo e de xenofobia. Se pudéssemos, utilizaríamos a expressão ‘dupla rejeição da pessoa humana’, pois foi uma prática contra a etnia negra e contra estrangeiros. Louvo a atitude do reitor da UnB, que adotou de imediato as medidas cabíveis junto a Polícia Federal, Polícia Civil, Ministério Público da União, Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Ressalto que do episódio podemos extrair várias lições, como a necessidade e precisão da política de cotas para negros não só na UnB, mas em todas as universidades federais do país. Também destaco as medidas já adotadas pelo Decanato de Extensão (DEX) da UnB, por intermédio da decana Leila Chalub, que são no sentido de valorizar e difundir ainda mais a cultura afro-brasileira e aumentar os espaços de pesquisa e ensino sobre o estudo da realidade africana e cultura afro-brasileira”.
Carlos Moura
Secretário Executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Cláudio Reis/UnB Agência

“O que foi cometido por esses jovens tem o repúdio de todo o povo brasileiro. Queria que as vítimas aceitassem as desculpas do Senado Federal. Se um dia eu tiver que morrer por uma causa, que seja a causa do racismo. Vamos acompanhar o caso e esperamos punição exemplar para quem cometeu esse ato de racismo. O que aconteceu e as tentativas de tratarem o caso como um crime comum e não de racismo e xenofobia nos envergonha e nos mostra que, a cada dia, devemos ter mais e mais forças para lutar pela igualdade e o fim dos preconceitos”.
Paulo Paim
Senador pelo PT (RS)
Cláudio Reis/UnB Agência

“Esse país ainda não conseguiu superar 400 anos de escravidão. Não é de hoje que as cotas tomam tanto tempo na mídia, que age para desqualificar a tentativa de eliminar o racismo e integrar o negro de maneira plena. Sei o significado de ser diferente na elite. A presença dos africanos na UnB é uma forma de mostrar a gratidão depois da ‘importação’ de quase cinco milhões de pessoas daquele continente para serem tratadas como animais por quase 400 anos. Eu me solidarizo com os estudantes africanos, mas também com a UnB. É na UnB onde temos o melhor programa de cotas do Brasil e por isso ela foi muito criticada”
Zulu Araújo
Presidente da Fundação Cultural Palmares
Divulgação

“O que aconteceu foi um crime que precisa ser apurado. Não há como deixar de reconhecer que há racismo e xenofobia por trás desse crime inaceitável. Deve doer para uma pessoa se deparar com racismo em outro país. Quero pedir desculpas em nome do povo brasileiro. A humanidade deve desculpas à África por toda a discriminação. Temos uma reparação a fazer. Eu vejo no Brasil uma cadeia sinistra de falta de educação, desemprego por desqualificação e violência como resultado. Cabe parabenizar a UnB pela inclusão dos estudantes africanos a e expansão das disciplinas Pensamento Negro e História da África”.
César Borges
Senador pelo DEM-BA
Daiane Souza/UnB Agência

“Com a gravidade do fato, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) da Presidência da República instaurou procedimento administrativo para acompanhar o caso e encaminhou ao Ministério Público da União as providências necessárias. Vemos com apreensão a possibilidade de problemas de xenofobia e racismo no ambiente universitário. Entendemos que até o presente momento a postura da UnB vai ao encontro de seu pioneirismo na adoção de projetos de igualdade racial, com a abertura de investigação acadêmica, criação do Dia da Igualdade Racial para marcar o fato e consolidação de uma comissão de combate ao racismo na instituição. O posicionamento firme da universidade e alerta da comunidade nos colocam tranqüilos ao papel que cabe a instituição nesse momento”.
Luiz Fernando Martins da Silva
Ouvidor da Seppir
Cláudio Reis/UnB Agência

“Em que pese estarmos tratando de um fato lamentável, de uma luta que por vezes parece não acabar mais, há um lado positivo. De uma forma ou de outra, o fato mobilizou a opinião pública brasileira. No Brasil, a renda dos pobres é de R$ 900,00. Dos negros, R$ 400,00. Não podemos deixar esse assunto de lado. Não podemos deixar que aconteça um apagão ético”.
Geraldo Mesquita Júnior
Senador pelo PMDB-AC

“O Governo brasileiro tomou conhecimento, com indignação, dos atos perpetrados contra alojamentos de estudantes da Guiné Bissau na Universidade de Brasília. O Governo brasileiro acompanha com atenção a apuração do incidente, já iniciada pela Universidade de Brasília e pelas Polícias Civil e Federal. O Governo brasileiro reitera seu repúdio a quaisquer atos de violência, que não se coadunam com o espírito aberto, tolerante e acolhedor do povo brasileiro”
Nota oficial do Ministério das Relações Exteriores
Cláudio Reis/UnB Agência

“O reitor da UnB veio ao Senado para mostrar a posição da universidade na apuração da questão. Quero dizer que estamos juntos para pedir desculpas. É inacreditável que ainda exista racismo no Brasil. Todos que já sofreram violências sabem que isso leva muito tempo para esquecer. É absurdo um fato como esse acontecer em uma universidade pioneira na implementação do sistema de cotas para negros. Lembro que foi instituído na UnB o dia de combate ao racismo e elogio a iniciativa”
Janete Rocha
Deputada pelo PT-SP
Cláudio Reis/UnB Agência

“Quero reiterar toda a solidariedade prestada aos estudantes. Fomos à UnB e estamos acompanhando o caso. A ação e a resposta da universidade foram rápidas e queremos que os responsáveis sejam punidos. Quanto mais penso no fato, mais fico chocado. O Timothy Mulholland (reitor da UnB) é nosso aliado na implantação de cotas e o país inteiro nos criticou. Tive a oportunidade de ir à Universidade Federal de São Carlos e os africanos de lá também estão preocupados com a situação”
Ivair dos Santos
Assessor da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República



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Coletâneas
Luta contra o racismo


Todos os textos e fotos podem ser utilizados e reproduzidos desde que a fonte seja citada. Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.
http://www.unb.br/acs/unbagencia/ag0407-14.htm

Declaração controversa

Carmen Azevêdo

Noticiada em revistas e jornais de circulação nacional, a declaração da ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em entrevista à BBC Brasil na semana passada, tomou proporções extremas. Ela disse que considera “natural” a discriminação dos negros contra os brancos. “A reação de um negro de não querer conviver com um branco, eu acho uma reação natural. Quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou”, afirmou. O comentário reacendeu os debates sobre o racismo no Brasil.

“É uma opinião absolutamente infeliz”, enfatizou o presidente da seccional baiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Saul Quadros Filho. Para ele, a justificativa para o fato só pode estar em um momento de entusiasmo, de emoção, da ministra, no trato de alguma questão relacionada ao assunto. “Acredito que tenha sido uma explosão emocional”, define. O jurista admite que existe, sim, a mancha do preconceito, mas que ela foi deixada pelos colonizadores portugueses. “Essa mancha não surgiu com a origem do povo brasileiro, não com o Brasil atual, civilizado. O próprio movimento abolicionista foi liderado por negros e brancos”, relembra.

Mas se o jurista acredita na infelicidade da afirmação de Matilde Ribeiro, alguns representantes do Movimento Negro acham que “infeliz” foi a forma como a imprensa se posicionou sobre o fato. O coordenador nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), Marcus Alessandro Mawusí, é um deles. Ele considera a postura de alguns veículos de comunicação como “maldosa” e pontua que a análise tem sido feita por alguns setores da mídia que não aceitam a criação de uma secretaria dedicada a cuidar da promoção da igualdade racial. “Além disso, é importante esclarecer que não existe possibilidade de os negros serem racistas. O racismo é uma ideologia de poder. Tínhamos que estar no controle para isso”, ressalta.

A postura da imprensa foi também alvo das críticas do negro africano Detoubab N´Diaye, 34 anos. Doutorando em ciências sociais pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), ele vê com ressalvas a repercussão do tema na mídia. “O contexto em que ela falou isso é que tem que ser considerado. Afinal, quando o negro olha a história dele, fica amargurado com o que sofreu. Foram muitos anos de ódio, inclusive de cotas para brancos na educação – afinal, os negros eram proibidos de estudar”, relembra. Para N’Diaye, a ministra foi apenas mal interpretada, principalmente porque até hoje os negros sentem o peso dos atos dos brancos.

Quem partilha desta opinião é o procurador geral de Justiça, Lidivaldo Britto. “Acho que a afirmação foi tirada de um contexto e criticada. O que eu achei mais interessante é que ela (Matilde Ribeiro) fez questão de ressaltar que não estava incitando o racismo. Para mim, isso já não daria margem a essas críticas”, observa.

Com a mesma naturalidade com que a ministra teria feito a afirmação, o presidente do Ilê Aiyê, Antonio Carlos dos Santos, o Vovô, percebe o ocorrido. “Não vi nada demais no que ela disse. Acho apenas que os brancos podem dizer o que querem – isso é visto como injúria, difamação –, mas quando o negro fala o que quer, é racismo”, comparou. O líder negro acredita ainda que a declaração, como receiam alguns, não incita o racismo. “Acho importante que ela mesma (a ministra) disse que não estava incentivando a prática”, concluiu.

***

Trecho polêmico

Confira o contexto em que a ministra deu a declaração à BBC Brasil

BBC Brasil - E no Brasil tem racismo também de negro contra branco, como nos Estados Unidos?
Matilde Ribeiro - Eu acho natural que tenha. Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou.

Fonte:www.bbc.co.uk/portuguese/

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A CRIAÇÃO de uma TV pública foi um dos pontos altos do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a posse de novos ministros, no Palácio do Planalto. Durante a solenidade, Lula disse que essa TV deve ser séria e fazer “o que muitas vezes a TV privada não faz”. O presidente acrescentou que quer uma coisa 24 horas por dia e que não seja chapa branca. Em tom exaltado, afirmou: “Chapa branca parece bom mas enche o saco. E gente puxando saco, não dá certo”. O que você acha da criação de uma TV pública? Esse é o próximo tema do debate do Correio da Bahia. Quem quiser pode participar enviando opiniões e depoimentos através do e-mail debate.redacao@correiodabahia.com.br.

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FALA-POVO

O que você acha da declaração da ministra?

“A MINISTRA Matilde Ribeiro está meio equivocada. Essa atitude de racismo está indo contra a função que ela exerce hoje no governo. Acho que foi uma avaliação impensada”.
Cristóvão Teixeira, 21 anos, estudante

“DEVIDO ao cargo que a ministra ocupa hoje, acho que ela não está desempenhando bem o trabalho que deveria. É natural que o negro tenha ódio do branco, porque conhece o histórico em que os brancos açoitaram para se manterem no poder. Mas com uma declaração dessas, em vez de amenizar, ela está incentivando os conflitos”.
Eldo Santana, 21 anos, estudante

“NÃO HÁ justificativa para um tipo de declaração dessas. Os que açoitaram já não vivem mais, fazem parte do passado. Hoje, as pessoas têm outra mentalidade. Acho que a declaração só se justificaria se a escravidão, por exemplo, continuasse até hoje”.
Conceição Pinheiro, 38 anos, administradora de empresas

“ESSA declaração não tem nada a ver com a realidade. Isso é coisa do passado, não se pode continuar mais com esse pensamento. Os negros estão conseguindo mudar a situação - apesar de ainda não ganharem o mesmo salário, já estão mais próximos do patamar salarial dos brancos. Eles também contam com as cotas agora”.
Railson de Sousa, 23 anos, auxiliar de produção

“FAZ sentido a afirmação, pois alguns brancos se acham melhores do que os negros. Se aproveitam de algumas situações para mostrar que são superiores. E isso irrita. Na verdade, são todos a mesma coisa. Quando morrerem, vão todos para o mesmo lugar”.
Antonio Silva, 44 anos, motorista

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 07.04.2007
http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/
noticia_impressao.asp?codigo=125746

Friday, April 06, 2007

Kaddafi quer exército africano e compensação dos europeus

Kaddafi quer exército africano e compensação dos europeus

DACAR. O presidente líbio, Muammar Kaddafi, pediu ontem que a África crie um exército continental para defender seus interesses e pediu o pagamento de compensações pelas nações colonizadoras pelas matérias-primas extraídas da região. A sugestão acontece um dia depois de o líder venezuelano Hugo Chávez incentivar a criação de uma força parecida na América do Sul.

Num discurso feroz feito numa parada militar em Dacar, no Dia Nacional de Senegal, Kaddafi criticou a pilhagem de ouro, diamantes e outros materiais dos países africanos. Para ele, as nações têm o direito de pedir reparação.

A unidade militar e política do continente ajudaria a África a resistir qualquer outra tentativa de recolonização, declarou o presidente líbio.

- Se conseguirmos unificar todas as forças armadas num único exército, a África terá poder - bradou Kaddafi, vestido com uma jaqueta branca com medalhas à esquerda e o perfil do continente em verde preso do outro lado.

- Temos que ser fortes para não nos tornarmos presa fácil para os colonizadores - avisou o líder, sentado ao lado do presidente senegalês Abdoulaye Wade, que fez o juramento para o segundo mandato na terça-feira passada, depois de vencer as eleições diretas em março.

Embora Kaddafi defenda um exército africano poderoso, um alto funcionário da União Africana no Sudão pediu melhor suporte logístico e armas para a força de paz da organização que resiste no serviço no país, na região violenta de Darfur.

Muitas vezes Kaddafi se intitula um salvador da unidade africana, como o venezuelano Hugo Chávez faz na América do Sul. O líder líbio disse que os milhares de cidadãos que imigram para a Europa todos os anos estão reeditando a rota dos navios que levavam as riquezas do continente para as nações colonizadoras.

- Hoje eles contestam nossa partida para a Europa, dizem que é imigração ilegal. Quando vieram de lá para ocupar a África era legal? - perguntou Kaddafi, com a ajuda de um intérprete. - Nos deixaram na pobreza, carregando nossos recursos e matérias-primas para seus países. Queremos ir atrás deles, ou os europeus devem devolver os bens em forma de compensações para sua colonização da África - completou.

Sugerindo que o racismo coloriu a visão européia da África, o presidente líbio continuou: "quem disse que branco é melhor que preto?".

- As vacas brancas e negras dão leite branco.

E terminou seu discurso, com um slogan revolucionário emprestado do lendário guerrilheiro, Che Guevara:

- A luta continua. Até a vitória, sempre!

Fonte: JB Online, 06.04.2007

http://jbonline.terra.com.br/editorias/internacional/papel/
2007/04/06/internacional20070406002.html