Saturday, August 12, 2006

Afrodescendentes discutem ações contra a intolerância






Com uma das maiores populações de afrodescendentes de Salvador, os bairros da Massaranduba, Bom Juá, Liberdade, Bairro da Paz e Engenho Velho da Federação são considerados os cinco grandes territórios negros e quilombos vivos da cidade. A tradição religiosa africana, bastante forte nesses territórios, nem sempre é respeitada, sendo os seus adeptos vítimas constantes de episódios de intolerância religiosa. A partir das próprias experiências, jovens discutiram ações para enfrentar o racismo durante o I Encontro de Equidade Racial do Projeto Mobilizadores e Mobilizadoras Culturais que teve como tema Jovens e intolerância religiosa.
O evento realizado a partir de parceria entre a Secretaria Municipal de Reparação da Prefeitura de Salvador (Semur) e o Centro de Educação e profissionalização para Igualdade Racial (Ceafro), com a Fundação Cultural Palmares foi realizado no Terreiro do Cobre, no Engenho Velho da Federação, com a participação de representantes de todas as cinco comunidades.
“Os jovens representam a continuidade da tradição da cultura religiosa africana, mas esta cultura está sendo ameaçada em razão da intolerância. Algumas igrejas católicas e as evangélicas não aceitam essa diferença e acabam afetando a prática cotidiana desses. Estamos aqui para reivindicar a liberdade religiosa de todos”, afirmou o coordenador do projeto, o sociólogo Agnaldo Neiva. A idéia é transformar os temas discutidos no encontro num documento que será entregue às autoridades, cobrando políticas públicas e ações para o enfrentamento da intolerância religiosa na capital.
Dentre as comunidades integrantes do projeto, o bairro do Engenho Velho da Federação é um dos mais marcados pela segregação religiosa. É lá que estão instalados três grandes terreiros de candomblé, de diferentes nações. São eles: os terreiros do Cobre, Bogun e Tanuri Junssara. E também várias igrejas evangélicas, de diversos segmentos. “Aqui acontece muito isso. Uma dia, um grupo de evangélicos se aproximou de mim para entregar um panfleto da igreja, mas, quando disse que era simpatizante do candomblé, eles começaram a dizer que era coisa do diabo e a ofender a religião”, lembra Jeferson Santana, 21 anos, freqüentador do Terreiro do Cobre.
Para ele, a atitude discriminatória de outras religiões contra o candomblé é inaceitável. “Eles não devem agir assim. O sol nasceu para todos. Com conversa tudo se resolve, mas eles nunca param para nos ouvir”, lamenta. Freqüentador do mesmo terreiro, o jovem Márcio Augusto, 16 anos, conta que também já passou pela mesma situação. “Eles sempre fazem isso. Acho uma falta de respeito e de ética religiosa”, disse.
O próximo encontro do projeto acontece no próximo dia 23 de agosto , no bairro do Bom Juá, com a inauguração da mostra fotográfica dos moradores da comunidade. (CB)

Aqui Salvador, Correio da Bahia, 12.08.2006 - www.correiodabahia.com.br

No comments: